sexta-feira, julho 16, 2010

O escravo nos anúncios de jornais


» SOCIOLOGIA

Estudo pioneiro de Freyre ganha reedição

Fabianna Freire Pepeu

O sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) foi um dos primeiros intelectuais a utilizar os anúncios de compra e venda e de fugas de escravos, publicados em jornais do século 19, como fontes documentais para a compreensão da realidade dos escravos africanos no Brasil. Editado pela primeira vez na década de 1960, a sua obra O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século 19, acaba de ser relançada pela Global Editora.

A obra reeditada tem 244 páginas e encarte com fotografias de escravos da coleção Carneiro de Mendonça. O livro, que teve primeiro a forma de uma conferência e foi publicado em 1934, na revista Lanterna verde, começou a ser escrito no final de 1933, após a conclusão de Casa grande & senzala, segundo conta o historiador e membro da Academia Brasileira de Letras, Alberto da Costa e Silva, responsável pela apresentação.

Segundo Costa e Silva, o destaque quanto às datas tem uma razão. Servem para “ressaltar o caráter pioneiro de Gilberto Freyre. Ainda que Joaquim Nabuco, numa página de O abolicionista, se tivesse servido dos anúncios de escravos nos jornais para atacar o regime escravista, ninguém, no Brasil, havia, até então, sobre eles se debruçado como fonte histórica. Nem no Brasil, nem, de forma persistente e metódica, nos Estados Unidos ou na Europa”, explica.

Dez mil anúncios, segundo Freyre, teriam sido reunidos em sua pesquisa, a partir de recortes retirados do Jornal do Commercio, Diario de Pernambuco, entre outros periódicos.

No caso dos anúncios de vendas de escravos, ele diz que a lógica era a mesma utilizada em outros anúncios para venda de vinho, cavalo ou de uma casa: buscava-se atrair a atenção do leitor e expor os objetivos práticos que o objeto poderia proporcionar ao seu comprador. As marcas presentes nos corpos dos escravos, relacionadas aos hábitos culturais africanos ou à violência física impetrada pelos senhores de escravos, são estudadas por Freyre, que também observa nesses anúncios as relações estabelecidas entre os escravos e os seus proprietários.

De acordo com o livro, que tem minuciosa biobibliografia de Freyre elaborada pelo historiador Edson Nery da Fonseca, variou consideravelmente a procedência de negros trazidos, como escravos, da África para o Brasil. “Essa variedade reflete-se quer na figura física dos negros descritos pelos anúncios, quer nos seus característicos de ordem etnográfica ou de natureza cultural, registrados nos mesmos anúncios: marcas de nação, penteados, barbas, xales, turbantes, tangas, vestidos”, escreve o sociólogo pernambucano.

Gilberto de Mello Freyre nasceu no Recife em março de 1900, vindo a falecer no dia 18 de julho de 1987. Foi sociólogo, antropólogo, escritor, sendo considerado um dos nomes importantes da história do Brasil. Publicou 17 livros, entre os quais Casa-grande & senzala (1933), Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife (1934) e Sobrados e Mucambos (1936).

O livro pode ser encontrado na Fundação Gilberto Freyre (Rua Dois Irmãos, 320, Apipucos. Fone: 3441 1733). Preço: R$ 47.

(Publicado no Jornal do Commercio - Recife, 09/05/2010)

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