sexta-feira, maio 18, 2012

Aniversário de Caruaru





É com certa regularidade que escuto dos amigos que Caruaru é uma cidade muito feia. Embora sempre discorde, sei que os meus argumentos são pura paixão. O traçado da cidade, em sua maior parte, não cativa; não há muitas edificações significativas; a arborização é precária, algo característico do Agreste; o rio Ipojuca ninguém sabe se está vivo ou morto. E, agora, de maneira semelhante ao que vem ocorrendo no Recife, há uma especulação imobiliária desenfreada que tem descaracterizado as suas já mal traçadas linhas.

Apesar disso, o nosso lugar de origem guarda algo de sagrado e eu, com olhos amorosos e nostálgicos, vejo em Caruaru um pedacinho de Pasárgada. O frio na caída da tarde, o silêncio durante as madrugadas e a chuva forte que lava as ruas em carreira desembestada parecem só existir por lá. Haveria mais um tanto para ser dito, mas eu acabaria esquecendo o real motivo dessa prosa.

Hoje, quando Caruaru completa 155 anos, queria agradecer a cidade por ter plantado em mim a semente do respeito pela natureza - em especial às árvores e aos passarinhos - e o desejo de o mundo vir a ser um lugar um bocadinho melhor e mais justo.

Caruaru é sinônimo de meu pai.

Em alusão ao aniversário da cidade, foram feitas algumas homenagens pela sua contribuição à cidade. Como ocorre com certa frequência, nem tudo é reconhecido no momento em que os fatos acontecem, mas os anos sempre se encarregam de mostrar que há, entre nós, pessoas que conseguem enxergar para além do seu tempo.

Não é à toa que, numa época em que pouco ou quase nada se falava em Pernambuco sobre a importância dos espaços públicos e desenvolvimento sustentável (para além do marketing internacional que se faz desse tema nem sempre permeado das melhores intenções), ele foi o responsável pela criação da reserva ecológica Serra dos Cavalos ( Parque João Vasconcelos Sobrinho), da Praça da Criança ( localizada em frente ao Espaço Cultural Tancredo Neves), além da Praça Chico Porto (próxima ao Shopping Difusora), cujo nome homenageia notável caruaruense ligado às antigas tradições carnavalescas da cidade.

Também é necessário comentar acerca de sua coragem em noticiar casos de tortura, durante a ditadura militar, ousadia que culminou com a sua cassação pelo AI-5, bem como a sua eterna luta pela liberdade de imprensa e garantia dos direitos civis.