sexta-feira, julho 16, 2010

Cinema experimental no Brasil


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Rubens Machado elogia produção pernambucana

Professor da USP destaca que Estado é o único que pode rivalizar com o Rio e São Paulo e ressalta a importância do ciclo do Super 8 para a formação da nova geração de cineastas


Fabianna Freire Pepeu

“Apenas o Rio de Janeiro e São Paulo podem, nesse momento, rivalizar com o Recife. O novo cinema que vem sendo produzido em Pernambuco é um cinema que aproveita a tradição dos anos 1970. Lírio Ferreira (Baile perfumado, Árido movie, Cartola e o Homem que engarrafava nuvens) e Cláudio Assis (Amarelo manga e Baixio de bestas), por exemplo, têm essa referência. Eles têm uma formação dentro dessa estética mais experimental.” A afirmação foi feita pelo professor-doutor de Teoria e História do Cinema na Universidade de São Paulo (USP), Rubens Machado Júnior, em visita ao Recife para ministrar o curso A fome e a forma: o cinema experimental no Brasil e as coordenadas estético-formais da estética da fome, na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).

“Quando esses cineastas se aventuram, há toda uma tradição que lhes dá suporte”, diz. Rubens se refere, sobretudo, à produção cinematográfica do Ciclo do Super 8, que é o segundo momento importante do cinema pernambucano, o anterior foi o Ciclo do Recife. Entre os superoitistas, que fizeram cinema experimental na trilha do Tropicalismo, a partir dos anos 1970, ele lembra os nomes de Amin Stepple Hiluey, Celso Marconi, Fernando Spencer, Geneton Moraes Neto, Jomard Muniz de Britto e o do artista plástico Paulo Bruscky.

Ele faz, ainda, outros elogios. “O Recife tem sido uma cidade exemplar no sentido de permitir uma relação com essa tradição radical dentro das estéticas cinematográficas.” Segundo o professor da USP, que foi curador da mostra Marginália 70: o experimentalismo no Super 8 brasileiro, realizado em São Paulo, no Itaú Cultural, de 2001 a 2003, aqui é o único lugar onde se tem acesso a essas produções em Super 8. “Há acervo e ele está disponível. Sem falar que, aqui, sempre houve exibição desses filmes, o que permitiu serem conhecidos pelas novas gerações. A partir da virada dos anos 1990, a cidade vem participando da renovação do cinema brasileiro, dando sequência a uma estrutura que veio se fortalecendo desde os anos 1970”, explica.

Os elogios feitos por Rubens procedem. Não é à toa que, nesse vigoroso movimento de retomada do cinema nacional, o estado vem contribuindo fortemente nesse processo. Hoje, em Pernambuco, há pelo menos 40 filmes, entre longas e curtas-metragens, em diferentes fases de produção.

EXPERIMENTAÇÃO

O curso de cinema, ministrado por Rubens Machado desde a última segunda-feira, na sede da Fundaj do Derby, faz parte do Programa Estudos da Cultura. “O objetivo é exibir e esboçar análises de filmes brasileiros, buscando compor um quadro histórico da experimentação cinematográfica e também introduzir possibilidades de interpretação dessas obras”, explicou Rubens.

O programa do curso foi dividido em quatro tópicos: História da experimentação: do mudo ao falado, A eclosão do Cinema Novo, Tropicalismo: Cinema Novo x cinema marginal, e Cinema marginal e experimentalismo superoitista. Entre os filmes escolhidos para exibição, em paralelo à carga horária do curso, destacam-se: São Paulo, a symphonia da metrópole (1929), dos imigrantes húngaros Rudolpho Lusting e Adalberto Kemeny, Lábios sem beijos (1930), de Humberto Mauro, Limite (1930), de Mário Peixoto, Aruanda (1960), de Linduarte Noronha, Deus e o diabo na terra do sol (1964), de Glauber Rocha, Os cafajestes (1962), de Ruy Guerra, Zézero (1974), de Ozualdo Candeias, O anjo nasceu (1969), de Júlio Bressane, e A mulher de todos (1969), de Rogério Sganzerla, entre outros.

(Publicado no Jornal do Commercio - Recife, 08/05/2010)

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