sábado, julho 23, 2011
Os nossos mortos de cada dia
Ando contra o vento na tarde clara de sábado. Meu corpo parece deslizar de maneira similar às ondas na areia. Nunca pensei que o que eu menos queria poderia ser o que eu mais precisava. Deus é alguém muito estranho. Tem razões que nos parecem por demais esdrúxulas. Lembro de todos os meus mortos, a começar pelo meu pai. Peço fervorosamente para que estejam todos em bom lugar.
Mas não estariam todos comigo a deslizar suavemente por lugares nunca dantes habitados?
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foto Praia de Boa Viagem (Recife)
domingo, julho 10, 2011
Das cortinas de fumaça
É no mais denso escuro em que me sou. É lá onde eu me retorço e também me alegro.Nesse lugar perto e muito distante, ao mesmo tempo, mora uma centena de possibilidades ou talvez mais.
É assim mesmo do jeito que estou contando. Não tenha dúvida.
Habitam esse ambiente interno centopeias e polvos incapazes de liberar nuvens de tinta para escapar de predadores. Mesmo porque no lugar mais longe em que me habito nada pode me fazer mal a não ser eu mesma.
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centopeias,
foto Rio de Janeiro,
Nuvens de tinta
quinta-feira, julho 07, 2011
De pais e sapatos
Se meu pai ainda estivesse por aqui, diria: que sapato arretado, hein? Ele tinha essa mania de olhar sapatos e de usar palavras que quase ninguém mais usa. Depois que o meu pai foi embora muita coisa ruim aconteceu. Acho que, mesmo sem saber, ele me guardava de algo. Ter pai é ter uma proteção. Mesmo que nem pai nem filho saibam muito bem disso.
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