quinta-feira, junho 21, 2012

De editoriais e anotações





Um plano para o Recife

No momento em que tanto se discute o nome de pretensos candidatos à Prefeitura do Recife, nada se escuta deles sobre um plano para a cidade. O JC ouviu 10 personalidades das mais diversas áreas de atuação, com propostas para o Recife que o novo prefeito vai administrar. Essas propostas contemplam desde ações administrativas no campo da infraestrutura, passando pela mobilidade urbana, as questões sociais, a integração dos bairros, a defesa do verde etc numa visão macro que representa, certamente, o que pensam 90% dos recifenses. Razão pela qual essas sugestões deveriam ser a agenda, desde já, dos que se engalfinham para saber quem será quem.

Se aos nossos candidatos fosse dado o bom senso de refletir sobre as dificuldades da cidade e honestamente reconhecer as limitações para resolvê-las, dificilmente após esse virtuoso gesto de transparência política lutariam tão desesperadamente pelo cargo. Teriam a grandeza de expor seus limites e fariam a diferença por mostrar a capacidade de transpor cada um dos obstáculos que fazem parte do dia a dia dos recifenses. A qualquer cidadão, ou cidadã, que se detenha em um só dos grandes problemas da capital não passa despercebido o tamanho do desafio e a impossibilidade de superá-lo em tão curto espaço de tempo como é um ou dois mandatos de quatro anos.

O que isso quer dizer é que há, claramente, uma inversão no processo de escolha do governante, o que dificulta a melhoria de qualidade de vida dos governados. Porque na verdade o que importa não é o nome de um ou outro, de partido tal ou qual, mas a que se propõe cada um para assegurar essa melhoria de qualidade de vida a todos, e não apenas ao grupo contemplado com os cargos comissionados, sem que isso signifique, necessariamente como deveria ser melhoria para a cidade.

Tome-se como exemplo a questão da mobilidade urbana. O Recife é um caos diário em matéria de mobilidade. Isso pode ser ouvido todo santo dia nas primeiras horas da manhã através do programa de Geraldo Freire na Rádio Jornal. Já se tornou redundante ouvir que o tráfego é lento ou que simplesmente travou. O Recife é uma cidade travada e o caos se agrava a cada hora com a entrada de mais veículos em circulação. Uma relação direta entre a melhoria do poder aquisitivo da população e o crescimento da frota de carros.

O candidato que se detivesse sobre o caos do trânsito como um problema a ser resolvido desde o primeiro minuto de mandato poderia, sim, propor uma política pública com reflexo imediato e para o futuro, rompendo as barreiras da imobilidade com uma revolução urbana sustentável e não apenas como vitrine para a próxima eleição. Bastaria esse trabalho para justificar a construção de um monumento em memória de um prefeito-urbanista capaz de transformar o Recife e seu entorno metropolitano em espaços de vida e convivência. Significa dizer, simplesmente, que estaríamos perante um candidato a governante com um plano para o Recife, a maior e mais importante das plataformas eleitorais.

Editorial Jornal do Commercio
21 de junho de 2012

Breves anotações

Impossibilidade de superar qualquer um dos problemas do Recife em apenas quatro anos? A sugestão é de novo "mandato de 12 anos"? Anotado.

Preocupação com a melhoria da qualidade de vida de todos e não apenas de um grupo contemplado com cargos comissionados? Não diga, caro Watson?!

Existe uma relação entre o caos no trânsito e a entrada "a cada hora" de mais veículos em circulação"? Puxa vida, nunca tinha pensando nisso. Quer dizer que o transporte individual causa engarrafamentos? Achava que era o aumento do número de bicicletas entre jovens de classe média que estava gerando esse caos. Mesmo porque as classes populares, desde que o mundo é mundo e que inventaram a bicicleta, sempre fizeram uso desse veículo não poluente. E não apenas para ir ao trabalho, mas também para levar as crianças à escola e dar um rolé.

Ah, sim, claro, a "culpa" do caos é tão-somente das classes populares, hoje com maior poder aquisitivo, e não há relação disso com o número de veículos que cada família historicamente com renda tem em seus edifícios com três, quatro, cinco garagens?

É coincidência ou eu simplesmente não li as expressões transporte público de qualidade ou faixa exclusiva para ônibus? Ah, claro, isso virá depois porque o caminho para a mudança do discurso é que nem novela: ocorre em capítulos. Confere.

"Política pública com reflexo imediato ... " Oi, e quatro anos não é um tempo muito limitado para a superação de qualquer um dos desafios do Recife?

Romper as barreiras da imobilidade? Revolução urbana sustentável e não vitrine eleitoral? Prefeito-urbanista capaz de transformar o Recife e seu entorno metropolitano em espaços de vida e convivência?

Receita:


Coloque uma pitada de palavras que o seu leitor médio ache legal (mesmo que não conheça o significado dos vocábulos), misture com manteiga progressista, doure em fogo médio até chegar ao ponto de parecer indignação e o prato está prontinho para servir ao público.

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sábado, junho 09, 2012

Inequações




Também eu um dia irei morrer. Pode ainda ser mesmo hoje. Pode ser amanhã. Ou, talvez, demore. E o que importa? Importa o meio tempo entre esse agora e o momento em que meu corpo, inerte, será lançado à terra ou ao mar ou aos quatro ventos. Por um instante, pareceu tão simples essa equação. Mas sei que terá sido só por um breve instante. Depois, chegarão as velhas linhas e esquinas e os labirintos, onde tateio cega em busca de uma saída. Ou de uma rua ou avenida. Meu ser inteiro escreve a minha alma. Do fundo do fundo do caldeirão sobem palavras claras que se desviam das estalactites no meio do caminho até o entorno do caldeirão. Lá em cima, bem acima, muito acima, um céu imaculado. Sim, a morte nos ajuda a pensar a vida.

sexta-feira, junho 08, 2012

A trilha de Carlos Sá






De súbito, meu olhar ganha amplitude.
Sobrevoo eternidades.

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quinta-feira, junho 07, 2012

O corpo na pedra




A gente acorda e não sabe para onde vai o dia. E, no entanto, enchemos o peito e a boca a falar tonterias. A vulnerabilidade intrínseca passa ao largo do que parece tão importante. Em certas ocasiões, é possível perceber com extrema clareza que é melhor calar, não se importar com coisa alguma, deixar que furem a fila, façam plágio de suas ideias, pisem no seu pé, e lhe roubem alguns trocados na rua. Em certas ocasiões, fica latente o desperdício das horas, a frase lida pela metade, a oportunidade perdida, o bem que se queria. Em certas ocasiões, volta a vontade de arriscar tudo sem ter uma única garantia pra que a vida não seja essa tolice contínua. Só o Céu consegue responder à pergunta fundamental, mas temos ouvidos moucos.