sexta-feira, julho 16, 2010

Ausência em Montez Magno




» ARTES PLÁSTICAS


Pintor inaugura hoje a exposição Thânatos no Instituto de Arte Contemporânea. A mostra explora cômodos que se destacam pelo vazio

Fabianna Freire Pepeu

Foi pouco depois de concluir o livro de poemas Enquanto respiro, ainda inédito, que o artista pernambucano Montez Magno deu início a produção de oito dos nove trabalhos que compõem a Série Thânatos. A exposição será mostrada a partir de amanhã, às 19h, no Instituto de Arte Contemporânea da Universidade Federal de Pernambuco (IAC/UFPE – Rua Benfica, 157, Madalena fone: 3227 0657).

Ao observar as obras dessa série, é fácil lembrar das velozes figuras com asas associadas, na mitologia grega, a Thânatos – considerado inimigo do gênero humano, ou a própria personificação da morte.

“Tive a necessidade de um processo catártico (purificador). Era necessário liberar uma série de coisas que estavam dentro de mim, alguém que reflete sobre o tema da morte”, diz o artista, que nasceu em Timbaúba, e cuja primeira individual foi realizada, no Recife, ainda nos anos 1950.

“Há dois aspectos fundamentais presentes nessa mostra, que são a questão da catarse e, ainda, um outro elemento invisível”, explica Montez. O artista se refere à figura humana, que insinua sua presença, mas, na realidade, está ausente de todos os quadros – exceto em Só, de 1991, que foi incorporado à exposição pela similaridade temática.

Em Madame Récamier, a obra de maior dimensão da mostra, com 1,60x2,20 – sua versão para o quadro de mesmo nome do pintor francês neoclássico Jacques-Louis David –, temos apenas a lembrança de uma mulher: um lenço repousa no canapé, onde antes havia corpo e a sensualidade recatada do início dos anos 1800. Em In memoram Morandi, uma homenagem a Giorgio Morandi, também do século 19, vislumbramos um cômodo onde tudo está imaculadamente organizado, com o mesmo toque de precisão das naturezas-mortas do pintor italiano, mas, ali, também não há a figura humana. Só livros e objetos que relembram uma história de vida.

Em outro trabalho, um dos mais delicados e bonitos da série, pantufas foram deixadas próximas a uma espécie de espreguiçadeira de ferro. Dali, vê-se uma gaiola, melancolicamente vazia. Nessa obra, em pastel a óleo, os traços muito se assemelham ao risco do giz, como a falar da existência que tão facilmente se apaga.

O artista plástico e poeta Montez Magno nasceu em 1934. Já participou de quatro bienais de São Paulo. Suas obras também foram mostradas em bienais no México e em Cuba. Nos anos 1960, foi bolsista do Instituto de Cultura Hispânica. Na década de 1970, com a premiação do I Salão Global do Nordeste, estudou artes na Europa e na Argélia. Ele mora em Casa Forte, no Recife, e se considera um autodidata.

(Publicado no Jornal do Commercio - Recife, 15/04/2010)

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