terça-feira, junho 05, 2007

Lixo bruto

Era isso o que criava diariamente: um universo sem saídas. Não sabia há quanto tempo elaborava impasses, mas devia ser coisa antiga. Tudo em nós é muito velho. A grande novidade é a gente perceber o fato. Modificar essa situação de coisas... ? Hum, aí já são outros 500!

Acordava pela manhã e decidia iniciar o processo de reciclagem do lixo. Separava os jornais numa pequena sacola, as garrafas de vidro em outra, o lixo orgânico numa terceira, e assim por diante. Mas, lá embaixo, num mesmo container estava tudo misturado. Qual seria o sentido desse papel quixotesco?

Difícil explicar como se dava esse processo de inventar ruas e avenidas, mas nenhum saída. Algo meio sutil, sem nome. Resumindo poderia dizer que se tratava de um bruto emaranhado de fios sem pé, nem cabeça.

Finalmente, alguém havia explicado direitinho o motivo de todo mundo ter mania de automóvel no Brasil. A classe média brasileira abandonou o serviço público de saúde, a educação pública e, finalmente, o sistema de transporte coletivo.

Cheia de explicações, caminhava em direção à parada de ônibus, buscando quebrar a hegemonia desse comportamento. Mas não havia ônibus. Os trabalhadores não precisam de transporte aos domingos. Não adianta procurar brechas. O sistema sempre ganha.

Pensar e ver demais é perigoso e adoece. Isso já era público e notório. A questão essencial era descobrir uma maneira de continuar pensando e vendo muito, mas sem adoecer. Hum, talvez a resposta pertença também à iniciativa privada! E aí só pagando a mensalidade do cartão de respostas.

Capitalismo, capitalismo selvagem, grandes centros urbanos, marginalização do campo e de suas técnicas milenares, individualismo exacerbado, mundo virtual, fragmentação da linguagem, velocidade.

Há muito tempo tinha lido, em Porto Alegre, uma frase dizendo assim: "o mundo é tão brilhante que vou precisar dos meus óculos de sol".